Pedro Henrique Martins
No Brasil existem 70 mil pessoas à espera de um transplante de órgãos. E esse número vem crescendo a cada dia. Os órgãos doados vão para pacientes que necessitam de um transplante e que estão aguardando em lista única, definida pela Central de Transplantes da Secretária de Saúde de cada Estado e controlada pelo Ministério Público.
Entre estas 70 mil pessoas, está Carlos José dos Santos, 34, aposentado e que sobre de Insuficiência Renal Crônica – IRC – (onde os rins se tornam incapaz de realizar suas funções). Carlos descobriu a doença em 2002, quando começou a sentir fortes dores de cabeça e pressão alta. Logo no início começou a fazer hemodiálise (que é o tratamento onde todo o sangue é removido do paciente e devolvido, depois de filtrado e limpo das impurezas), três vezes por semana, terças, quintas e sábados, quatro horas por dia em Pouso Alegre. Atualmente faz o tratamento em Bragança Paulista.
“A máquina de hemodiálise é para nós um rim mecânico”, diz Carlos.
Além da hemodiálise, Carlos é obrigado a tomar vários tipos de remédios para completar o tratamento. São medicamentos para controlar a pressão alta, vitaminas para evitar a anemia e remédios para o cálcio e fósforo, muitos deles vindos do exterior, como a Irlanda e Alemanha.
A hemodiálise não é a cura para um doente renal crônico, mas dificulta o aumento da doença. Nesse caso a cura seria somente um transplante de rim, que pode ser de doador vivo e doador cadáver. No caso de doador cadáver, são pacientes em Unidade de Terapia Intensiva –UTI- com morte encefálica – ou AVC – derrame cerebral.
Para poder doar um órgão ou tecido, (no caso de doador vivo), o doador tem que pertencer à família do paciente até de quarto grau de parentesco, autorizado pela justiça. Carlos José tem quatro irmãs e um irmão e tem a certeza que todos eles são compatível com ele, mas tem a consciência que eles nunca doariam, porque tem medo da cirurgia, “eles nunca se ofereceram para doar e nem os exames de sangue necessários para comprovar a compatibilidade eles não querem fazer, até minha mãe se fosse para doar não doaria”.
Carlos ressalta a importância do dinheiro nessas horas, “se eu tivesse muito dinheiro e oferecesse 50 mil para alguns dos meus irmãos, tenho a certeza que qualquer um doaria um rim pra mim na hora; mas sei que é impossível, pois não tenho essa quantia e creio que seria uma proposta indecente, o que o dinheiro não faz, não é”.
Carlos tem três filhos e mora com sua esposa em uma casa de aluguel, família para ele é justamente seus filhos e sua mulher, “tenho que viver a cada instante, a cada dia e cada minuto da minha vida, com meus três filhos e minha mulher, fazer de tudo para viver bem, pois sei que não vou ficar aqui por muito tempo, sinto que meu tempo já está se esgotando”.
Há cinco anos Carlos está sofrendo de IRC e sabe que possui direitos extras, como por exemplo, filas em banco, pessoas como ele, têm a preferência assim como os idosos e deficientes físicos de não permanecer na fila, passando à frente dos demais, “a sociedade não respeita esses nossos direitos, o povo reclama, como diz um ditado, “as aparências enganam”.
Carlos José dos Santos é apenas mais um, entre 70 mil pessoas que esperam ansiosamente por um transplante. Para ser doador, a primeira coisa a fazer é tomar uma decisão tão pessoal. A segunda é conversar sobre isso com a sua família. De acordo com a Legislação Brasileira sobre Transplantes, a doação só acontece com o consentimento da família após a confirmação da morte encefálica (no caso de doador cadáver). Portanto, para que sua vontade seja respeitada, converse com seus familiares.